Para que é que servem as crianças?
Para percebermos que uma criança nos faz descobrir que somos crianças até não desistirmos de crescer.
Eduardo Sá
Para que é que servem as crianças?
Para voltarmos a conjugar o amor começando pela palavra confiar.
Para descobrimos tudo o que, estando debaixo dos nossos olhos, nos falta descobrir.
Para voltarmos a sorrir. E para fazermos disso o lado soalheiro de todos os dias.
Para olharmos nos olhos. Bem lá para o fundo. Sem tempo e sem pressa. Até ao umbigo da alma.
Para que é que servem as crianças?
Para lhes trazermos histórias, historietas, cantigas de embalar e cantilenas perdidas. E saltitarmos até ao passado. Para ir buscar todos aqueles que nos fizerem sentir o melhor do seu mundo. E dividirmos com elas o melhor de quem nos amou.
Para apanharmos os maus. E espantarmos os feios. E caçarmos, um a um, os pesadelos. E guardarmos o sono. E dormirmos descansados no descanso com que os aconchegamos, junto a nós.
Para fazer com que o “faz de conta” volte a ser mais importante. E só isso nos faça voltar a ver o mundo até aos intestinos. E só isso nos dê olhos de ver. E razões, de sobra, para nos encantar.
Para nos voltarmos a sentir pequeninos. E indefesos. E, só assim, para voltarmos a ter dúvidas e aprender.
Para que é que servem as crianças?
Para darmos colo. E darmos mimo. E darmos corda às lamúrias. E para podermos ser patetas. E descobrir que, afinal, ainda sabemos rir.
Para darmos a mão. E sentirmos que nela se guardam todos os super-heróis com todos os superpoderes que há no mundo.
Para reabilitarmos o fazer beicinho. E o “dá-me colo!”. E a arte de fazer lamúrias. E o engenho de malandrar. E o amor. Claro.
Por Eduardo Sá